Muito cedo para expor sentimentos profundos. Para fazer planos. Para ter sonhos em comum.
Demasiado cedo para tomar decisões difíceis, optar, escolher.
Cedo para ter certezas, ou sequer pressentimentos.
Era cedo.
E depois, um dia, descobriu que as opções afinal nunca o tinham sido, as escolhas estavam decididas há já muito tempo, os sonhos comuns não existiam, e os planos nunca seriam feitos.
Foi nessa altura que percebeu que já não era cedo para falar de amor. Não era. Nunca tinha sido.
Há poucas coisas melhores do que o final de uma tarde quente de Verão.
Chegar a casa e descalçar os sapatos, sentir a frescura que sobe do chão, fechar a porta e ficar por uns momentos na penumbra, respirar fundo.
Abrir as janelas do quarto de par em par e fazer a cama de lavado, cheirar o aroma a amaciador dos lençóis, a brisa morna que vem da rua agita os cortinados enquanto ando em volta da cama.
Encher de água um regador plástico colorido e alimentar a terra já seca das plantas que habitam os vasos do alpendre.
Tomar um duche pouco quente com a janela entreaberta, passar a toalha ao de leve pelo corpo para ficar com a pele ainda húmida, que o calor vai acabar de a enxugar em poucos minutos.
Depois sentar-me na varanda com um livro, deixar o cabelo secar ao ar livre, o sol descendo devagarinho até pousar no telhado da casa em frente e a seguir desaparecer.
O jantar é ligeiro e termina com um gelado fresco e macio, um dos meus CDs favoritos gira no leitor e fornece a banda sonora perfeita, enquanto o crepúsculo pinta de laranja e rosa o horizonte.