Pequeno-almoço com os pássaros
Hoje tomei o pequeno-almoço com os pássaros.
O dia clareava devagar, um céu brilhante mas ainda sem sol à vista.
A caneca de café com leite aquecia-me as mãos, a manteiga derretia na torrada.
Andorinhas cruzavam a janela grande da cozinha em voos rápidos, imitando flechas negras.
Um pintassilgo lançou no ar a sua canção operática, feita de trinados e gorjeios inimitáveis, sem dar uma única fífia.
Veio depois o arrulhar de uma rola, não sei se vadia ou cativa, aquele “cucurru” cadenciado e hipnotizante.
Na acalmia que se seguiu, a ausência de sons humanos ainda deixou que subisse até mim o piar de alguns pardais, habitantes regulares do jardim.
Esta manhã prolonguei mais do que o habitual a minha primeira refeição do dia, deixei-me ficar mais algum tempo a aproveitar a vida.
Porque hoje tomei o pequeno-almoço com os pássaros, e soube-me bem.