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A vida e outros acasos

A vida é uma coisa. O amor é outra. (Miguel Esteves Cardoso)

A vida e outros acasos

A vida é uma coisa. O amor é outra. (Miguel Esteves Cardoso)

Não preciso

 

Não preciso que me dês espaço. Eu sei reservar o espaço que me é necessário. E se algum dia não conseguir, vou a ser a primeira pedi-lo.

 

Não preciso que me protejas. Sou uma mulher adulta e já passei por muita coisa. Preciso sim que me dês a mão quando me lanço no desconhecido e me deixes encostar a ti quando perco o fôlego.

 

Não preciso que me ajudes. Se fizeres a tua parte, não vou precisar de ajuda. Mas se me mimares quando estou cansada, eu vou gostar, e vou agradecer, e vou retribuir, porque os guerreiros dos dias de hoje também batalham, embora as armas sejam diferentes.

 

Não preciso que me ponhas num pedestal. Não sou santa. Sou uma pessoa vulgar que tenta viver o melhor que sabe e fazer o melhor que pode. Que vai percorrendo o seu caminho construindo-se à medida que o percorre, tentando aprender alguma coisa todos os dias.

 

Não preciso que me cubras de ouro. Quero tempo e experiências, não coisas. Quero uma vida, não uma conta bancária. Quero partilha de histórias, emoções, olhares e projectos. Quero um futuro, não um colar de pérolas.

 

Não preciso que me jures amor eterno. Não preciso de palavras só porque sim, porque é bonito dizê-las, porque agradam. Apenas preciso daquelas que vão para lá das meras intenções, das que são ditas porque espelham a tua vontade e o teu compromisso, das que têm um pedaço de ti.

 

Não preciso de um príncipe encantado, porque eu também não sou uma mulher de sonho.

 

Preciso de muito, mas há muito mais de que não preciso.

 

 

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Quem cala

 

Dizem que quem cala consente.

Mas sabes… as pessoas são maiores do que os provérbios, e calar nem sempre quer dizer que estamos de acordo.

Às vezes calamo-nos para não magoar os outros. Porque dizer o que pensamos não vai alterar nada, mas vai ferir. E de mágoas gratuitas já está o mundo cheio.

Ou calamo-nos porque percebemos que não estão a ouvir-nos. Ou estão a ouvir mas não querem saber, e é como dar pérolas a porcos.

Há quem se cale porque falar é perigoso. Fisicamente perigoso. Às vezes pode mesmo significar a morte, para si próprio ou para os seus.

Outros calam-se porque não querem dar-se ao trabalho de falar. Acham que o assunto não é com eles, ou é mas falar vai implicar incómodos, e não estão para isso. Os outros que falem e se mexam, e se daí vier algum benefício, tanto melhor.

E há os que se calam porque estão mergulhados na escuridão – a escuridão da dor, da doença, da desesperança ou da sua própria mente – e já nem têm força para falar.

Há muitos motivos para nos calarmos.

Eu, quando me calo, não é porque estou a consentir. Quando não refilo, não reclamo, não peço, nem sequer toco no assunto, não é porque concordo.

Não é porque estou acomodada.

É porque já desisti.

 

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Enquanto não voltas

 

Enquanto não voltas, o mundo não vai parar de girar.

As marés vão suceder-se umas às outras e os lobos vão continuar a uivar à lua. Os pássaros farão os seus ninhos, os rios correrão para jusante e o Outono pintará as paisagens em tons de amarelo e castanho.

Quando as flores dos jacarandás caírem, as ruas ficarão atapetadas de roxo e o seu perfume vai permanecer no ar por muitos dias.

Enquanto não voltas, a vida vai continuar.

Os carros irão encher as estradas nas horas de ponta, os pais continuarão a levar os filhos à escola, adolescentes vão suspirar de paixão pelo seu cantor favorito e encher os festivais de música, chorar as suas desilusões amorosas, festejar por tudo e por nada.

Haverá casamentos e nascimentos, e doenças e lutos lacrimosos, guerras estúpidas e loucuras fatais.

Enquanto não voltas, vou continuar no meu caminho.

Levantar-me todos os dias mesmo que não me apeteça, fazer o meu trabalho como sempre, cumprir a rotina só quebrada de vez em quando. Irei às compras ao supermercado, tomar um café com amigos, comover-me com as histórias tristes dos outros e sorrir quando as notícias são boas.

Serei assaltada pelas recordações de bons momentos, farei planos para ir de férias, receberei feliz todos os abraços apertados dos que me querem bem.

Enquanto não voltas, não vou esquecer-me de viver. Mesmo que às vezes custe.

E pode ser que um dia eu já não queira que tu voltes.

 

Bosque Nebuloso de Monteverde (564) cópia 4.jpg

 

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