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A vida e outros acasos

A vida é uma coisa. O amor é outra. (Miguel Esteves Cardoso)

A vida e outros acasos

A vida é uma coisa. O amor é outra. (Miguel Esteves Cardoso)

A lua é a mesma

 

Noite morna de Verão num ano qualquer. A lua sobe no horizonte, assomando por detrás da muralha do forte. Cheia e brilhante, deixa no mar de breu um rasto leitoso.

Os teus braços rodeiam os meus ombros, o teu rosto encostado ao meu, os dois olhando na mesma direcção.

Um cenário de paz, uma sensação de segurança, o meu coração preenchido e em sossego.

É isto a felicidade.

 

Noite fresca de Outono alguns meses depois. A lua mostra-se entre nuvens esparsas que mancham o céu num dégradé de tons cinzentos, pairando sobre os telhados. Cheia e com um halo à volta, prometendo chuva.

Estou atrás das vidraças, olhando as árvores e a serra, sentindo o frio da noite que se instala e as saudades dos braços que estão longe, roubados aos meus pelo dever.

Longe daqui há uma ilha onde a mesma lua se ergue atrás de um anfiteatro natural iluminado por milhares de luzes, e onde tu a prendes para sempre numa fotografia.

A minha felicidade está a mil quilómetros de distância.

 

Noite gélida de Inverno vários anos passados. A lua exibe-se sobre o rio e a ponte, atraindo os olhares. Cheia e bela, dona do céu nocturno.

Estou sozinha dentro do carro que conduzo rumo a mais uma noite longa. Já há muito tempo que não sei o que é sentir os teus braços à volta dos meus, desde que partiram para outros abraços.

A noite está calma e eu conduzo descontraída, mas por vezes o pensamento foge-me para outras realidades.

O meu coração está adormecido e a felicidade é apenas sonhada.

 

Noite perfumada de Primavera num ano indefinido. A lua paira por cima das árvores, iluminando a noite. Cheia e provocante, enchendo a noite de promessas.

Passo o portão do parque e no espaço amplo e aberto do pátio empedrado distingo logo a tua silhueta. Dás-me um beijo de boas vindas e os teus braços fecham-se sobre as minhas costas.

Aspiro o teu cheiro ainda familiar e o mundo volta a fazer sentido.

A minha felicidade regressou. E a lua é (ainda e sempre) a mesma.

 

  

 

 

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