INOMINÁVEL #3
Primavera, onde andas? Olha que já saiu a INOMINÁVEL n.º 3… e é dedicada a ti.
Vá lá, não sejas assim. Aparece…
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Primavera, onde andas? Olha que já saiu a INOMINÁVEL n.º 3… e é dedicada a ti.
Vá lá, não sejas assim. Aparece…
Hoje tomei o pequeno-almoço com os pássaros.
O dia clareava devagar, um céu brilhante mas ainda sem sol à vista.
A caneca de café com leite aquecia-me as mãos, a manteiga derretia na torrada.
Andorinhas cruzavam a janela grande da cozinha em voos rápidos, imitando flechas negras.
Um pintassilgo lançou no ar a sua canção operática, feita de trinados e gorjeios inimitáveis, sem dar uma única fífia.
Veio depois o arrulhar de uma rola, não sei se vadia ou cativa, aquele “cucurru” cadenciado e hipnotizante.
Na acalmia que se seguiu, a ausência de sons humanos ainda deixou que subisse até mim o piar de alguns pardais, habitantes regulares do jardim.
Esta manhã prolonguei mais do que o habitual a minha primeira refeição do dia, deixei-me ficar mais algum tempo a aproveitar a vida.
Porque hoje tomei o pequeno-almoço com os pássaros, e soube-me bem.
Eu queria a Primavera.
Queria um céu límpido, onde apenas um jacto cintilante rompesse a harmonia do azul, no seu voo rumo ao desconhecido.
Queria um raio de sol brilhante e morno atravessando o vidro da janela e deixando a sua marca na madeira do chão da sala.
Queria um campo verde a perder de vista, pontilhado de azedas radiosas e papoilas vibrantes, que um melro manchasse de negro saltitante e acordasse com o seu canto.
Queria a alvura de um lençol secando ao ar livre, só levemente agitado por uma brisa transportando o cheiro das amendoeiras em flor.
Queria sorrisos abertos nos rostos das pessoas com quem me cruzo, e gargalhadas francas a quebrarem o silêncio da tarde amena.
Queria os sons agudos de crianças a brincarem no parque, de campainhas de bicicletas pedaladas por pés pequenos, de bolas chutadas entre irmãos.
Queria uma porta escancarada no meu coração sonâmbulo, onde entrassem emoções e saíssem sentimentos, um coração a bater forte e com vontade.
Eu queria muito.
Mas lá fora há apenas um dia cinzento e um céu que chora lágrimas grossas.