Um simples beijo. Assim, sem mais nem menos. Sem eu estar à espera. Quando eu estava tranquila, embalada na placidez da minha vida.
Apenas um beijo vindo do nada, dado de surpresa. Um beijo intenso. Como se quisesses devorar-me.
Um beijo apenas, e o desassossego tomou conta do meu espírito. As emoções invadiram-me em tropel, ruíram todas as minhas defesas. Fiquei à mercê dos sentimentos.
Foi só um beijo, mas toda a minha vida mudou.
Bastou um beijo, um simples beijo, para eu me apaixonar.
Caí de quatro quando o vi. Como se tivesse sido fulminada por um raio. Fiquei pregada ao chão, mesmerizada, incapaz de raciocinar. Aplicam-se a mim todos os lugares-comuns habituais para descrever uma paixão à primeira vista. E provavelmente mais alguns que ainda não foram usados.
Não foram os olhos dele, tapados por óculos escuros. Também não foi o corpo, disfarçado pelas roupas meio largas, nem foram as mãos, escondidas nos bolsos das calças.
Terá sido talvez o seu sorriso, luminoso e quente como um dia de Verão. Ou tão só a sua presença, a sua aura de confiança, a forma como entrou e ficou a olhar. Simplesmente a olhar e a sorrir.
A partir desse momento, tudo à minha volta como que se esbateu, e fiquei incapaz de afastar os olhos dele. Como se ele fosse o pólo norte da minha agulha magnética, o farol que rompe a escuridão do oceano onde eu navegava, ele planeta principal e eu apenas um satélite gravitando em seu redor. Apaixonei-me sem razão, sem controlo e sem sequer me aperceber. Desapareceram todas as minhas prioridades, porque o meu único objecto de desejo passou a ser ele, um simples desconhecido, um estranho cuja existência até então eu ignorava completamente e de quem nada sabia.
Foi assim que me apaixonei sem remédio e me deixei afogar naquela paixão. Deixei-me ir até ao fundo, privada de qualquer possibilidade de salvação, porque contrariar o que sentia teria sido impossível, mesmo que quisesse. Deixei que a paixão me esvaziasse, me consumisse até já nada restar de mim. Apenas sobreviveram as cinzas do que eu tinha sido.
E só nessa altura, qual fénix, eu pude renascer. Porque esta paixão foi como a chama de um fósforo – começou com uma explosão, mas ardeu rapidamente até ao fim, e nada sobrou para a alimentar. Aqueceu-me o coração por algum tempo, ofereceu-me um novo fôlego, e dela saiu uma mulher renovada e mais forte.