Não é fácil viver
Não é fácil viver no mundo de hoje.
Um mundo que parece encolher a cada nova invenção tecnológica, mas onde as pessoas parecem afastar-se cada vez mais umas das outras. Um mundo dividido ao meio por intransigências. Pela violência. Pela fome e pela indiferença.
Um mundo que é um planeta esventrado, abusado, violentado. Um planeta em revolta, que se vinga em tempestades, sismos e inundações. Um planeta condenado à morte, onde o ser humano é o maior parasita, a maior praga que parece decidida a destruí-lo.
Não é fácil viver na sociedade de hoje.
Divididos entre o que esperam de nós e aquilo que nós queremos ser.
Espartilhados por convenções, vivendo numa manada que é suposto ser coesa, onde cada pessoa tresmalhada é constantemente, insidiosamente convencida a voltar ao redil, sob pena de se tornar indigente ou eremita.
Querendo ser fiéis aos nossos princípios mas tendo de lutar encarniçadamente contra quem nos quer impingir os seus e não olha a meios para o conseguir.
Não é fácil viver no nosso país de hoje.
Um país onde a esperança é mais fina e frágil que uma gaze.
Onde as pessoas são dispensáveis e menos valorizadas do que uma qualquer máquina, onde quem tem dinheiro tem tudo, e quem apenas vive do seu trabalho muitas vezes se limita a sobreviver.
Um país onde a mentira e o fogo-de-vista se instalaram e os lobos já nem se incomodam em usar uma pele de carneiro; e onde o que ontem era promessa e dado adquirido, hoje faz-se por esquecer, e dá-se o dito por não dito – sem remorso.
Não é fácil viver.
E menos ainda acreditar.