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A vida e outros acasos

A vida é uma coisa. O amor é outra. (Miguel Esteves Cardoso)

A vida e outros acasos

A vida é uma coisa. O amor é outra. (Miguel Esteves Cardoso)

Final de tarde

 

Há poucas coisas melhores do que o final de uma tarde quente de Verão.

Chegar a casa e descalçar os sapatos, sentir a frescura que sobe do chão, fechar a porta e ficar por uns momentos na penumbra, respirar fundo.

Abrir as janelas do quarto de par em par e fazer a cama de lavado, cheirar o aroma a amaciador dos lençóis, a brisa morna que vem da rua agita os cortinados enquanto ando em volta da cama.

Encher de água um regador plástico colorido e alimentar a terra já seca das plantas que habitam os vasos do alpendre.

Tomar um duche pouco quente com a janela entreaberta, passar a toalha ao de leve pelo corpo para ficar com a pele ainda húmida, que o calor vai acabar de a enxugar em poucos minutos.

Depois sentar-me na varanda com um livro, deixar o cabelo secar ao ar livre, o sol descendo devagarinho até pousar no telhado da casa em frente e a seguir desaparecer.

O jantar é ligeiro e termina com um gelado fresco e macio, um dos meus CDs favoritos gira no leitor e fornece a banda sonora perfeita, enquanto o crepúsculo pinta de laranja e rosa o horizonte.

A vida tem destes momentos perfeitos.

 

O escritor

 

Havia um escritor que tinha o dom de nos contar histórias maravilhosas, onde a realidade crua e a magia se fundem tão naturalmente que temos dificuldade em perceber onde acaba uma e começa outra.

Um escritor que criou personagens ao mesmo tempo místicas e profundamente humanas, terríveis e ternas, implacáveis e sofredoras, que ele descreve e desnuda até ao mais íntimo dos seus seres com uma tal mestria que ao lê-lo acreditamos que somos nós ali, naquelas linhas, e que aquelas histórias são a nossa.

Um escritor que nos transporta a lugares tão palpáveis e verídicos como simultaneamente fora do tempo, fora deste mundo.

Ler um qualquer dos seus livros é uma experiência incomum e quase transcendental, é voar nas asas da imaginação e viver mil vidas diferentes, e regressar com o espírito enriquecido e o coração mais quente.

Havia um escritor que respirava, e andava, e falava, e vivia. Um patriarca cujo outono foi uma espécie de morte já anunciada, cujo nome foi aproveitado, e citado e usurpado vezes sem conta, para lhe atribuírem palavras que nunca disse nem escreveu.

Dizem agora que morreu. Só que isso não é inteiramente verdade.

Morreu o homem. Mas o escritor, esse permanece connosco nas páginas dos seus livros, na voz das suas personagens e no imaginário dos seus leitores. O escritor viverá para sempre, e para nosso contentamento. O seu nome? Gabriel Garcia Márquez.

 

 

A senhora dos livros

 

Livros.

Livros grandes, pequenos e assim-assim.

Livros em prateleiras e em estantes.

Livros que mostram as suas capas coloridas.

Livros que apenas deixam entrever a sua lombada discreta.

Livros que se escondem atrás de livros.

Livros emprestados que nunca regressam.

Livros que regressam de uma ausência prolongada, acolhidos como um filho pródigo.

Livros que vagueiam sobre as mesinhas ou os sofás.

Livros que correm todas as divisões da casa.

Livros ao sol na espreguiçadeira da varanda.

Livros na mala de viagem, sempre.

Livros no banco do carro.

Livros para cá a para lá, na pasta de trabalho de todos os dias.

Livros com marcadores entre páginas.

Livros amarelados pelo tempo, as cores da capa comidas pelo sol.

Livros sem um vinco, ainda cheirando a novo.

Livros devorados em poucas horas e livros nunca acabados de ler.

Livros numa pilha à espera de serem lidos.

São assim os meus livros. São muitos. E eu não vivo sem eles.

 

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