O escritor
Havia um escritor que tinha o dom de nos contar histórias maravilhosas, onde a realidade crua e a magia se fundem tão naturalmente que temos dificuldade em perceber onde acaba uma e começa outra.
Um escritor que criou personagens ao mesmo tempo místicas e profundamente humanas, terríveis e ternas, implacáveis e sofredoras, que ele descreve e desnuda até ao mais íntimo dos seus seres com uma tal mestria que ao lê-lo acreditamos que somos nós ali, naquelas linhas, e que aquelas histórias são a nossa.
Um escritor que nos transporta a lugares tão palpáveis e verídicos como simultaneamente fora do tempo, fora deste mundo.
Ler um qualquer dos seus livros é uma experiência incomum e quase transcendental, é voar nas asas da imaginação e viver mil vidas diferentes, e regressar com o espírito enriquecido e o coração mais quente.
Havia um escritor que respirava, e andava, e falava, e vivia. Um patriarca cujo outono foi uma espécie de morte já anunciada, cujo nome foi aproveitado, e citado e usurpado vezes sem conta, para lhe atribuírem palavras que nunca disse nem escreveu.
Dizem agora que morreu. Só que isso não é inteiramente verdade.
Morreu o homem. Mas o escritor, esse permanece connosco nas páginas dos seus livros, na voz das suas personagens e no imaginário dos seus leitores. O escritor viverá para sempre, e para nosso contentamento. O seu nome? Gabriel Garcia Márquez.