Queria um céu límpido, onde apenas um jacto cintilante rompesse a harmonia do azul, no seu voo rumo ao desconhecido.
Queria um raio de sol brilhante e morno atravessando o vidro da janela e deixando a sua marca na madeira do chão da sala.
Queria um campo verde a perder de vista, pontilhado de azedas radiosas e papoilas vibrantes, que um melro manchasse de negro saltitante e acordasse com o seu canto.
Queria a alvura de um lençol secando ao ar livre, só levemente agitado por uma brisa transportando o cheiro das amendoeiras em flor.
Queria sorrisos abertos nos rostos das pessoas com quem me cruzo, e gargalhadas francas a quebrarem o silêncio da tarde amena.
Queria os sons agudos de crianças a brincarem no parque, de campainhas de bicicletas pedaladas por pés pequenos, de bolas chutadas entre irmãos.
Queria uma porta escancarada no meu coração sonâmbulo, onde entrassem emoções e saíssem sentimentos, um coração a bater forte e com vontade.
Eu queria muito.
Mas lá fora há apenas um dia cinzento e um céu que chora lágrimas grossas.