Dor
Quando a dor se instala na nossa vida e não sai nunca, tudo acaba por girar à sua volta. Insinua-se lentamente em tudo o que fazemos, suga as energias, ocupa os pensamentos. Vai tomando conta de tudo, a pouco e pouco, torna-se grande mesmo quando não passa de uma moinha. Atrapalha quando queremos levar uma vida normal e nos esforçamos por a ultrapassar. Satura, cansa, rouba-nos a paciência. Quando há dor, somos pessoas piores.
Tentamos distrair-nos, esquecer que ela existe nem que seja por uns momentos, fingir que não é nossa. Dizemos “está tudo bem” porque é preciso pensar positivo e não é uma simples dor que nos vai deitar abaixo. Lutamos com força para não sucumbir. Às vezes até fazemos cara alegre e rimos.
Acabamos por nos resignar a viver com ela. A encontrar formas de a contornar, a deixá-la submergir-nos quando nada mais resulta. Vamos ao fundo na esperança de conseguir voltar à superfície, de que amanhã seja melhor do que hoje. Vivemos como e quando podemos, naufragamos em dias de desespero, e sorrimos de felicidade quando ela nos dá uma trégua, mesmo que momentânea, mesmo quando sabemos que ela vai voltar em breve.
E não há diferença entre uma dor física e uma dor de coração. Ambas conseguem ser igualmente dilacerantes.