Qualquer coisa de quietude, de sossego, como se a natureza estivesse completamente concentrada em despejar chuva às catadupas e o mundo inteiro parasse para assistir.
Qualquer coisa de imobilidade, de letargia, como se um soporífero se insinuasse lentamente, toldando os movimentos, e apenas o olhar permanecesse, fixo, mesmerizado pela chuva que cai, o espírito embotado, paralisado.
Qualquer coisa de fascinante numa manifestação tão comum e no entanto tão incontrolável, tão facilmente explicada pelas leis da física e da química, e ao mesmo tempo tão para lá da simples compreensão.
Qualquer coisa de melancolia, de pequenina dor agradável, de abandono e solitude, mas também de aconchego, de envolvimento.
Há qualquer coisa numa manhã de chuva que me faz sentir de regresso ao útero.