Febre
No princípio é o desejo. Uma vontade de outros lugares, de outros cheiros e sabores. Uma urgência em sair da rotina. Uma necessidade de gestos e olhares diferentes.
Depois vem o sonho. A memória de uma fotografia colorida, de um texto lido em criança ou uma revista folheada anos atrás. O exercício da imaginação que de repente se transforma em ansiedade.
Vou atrás do chamamento e tomo a minha decisão. A partir daí já não há retorno. Fico febril de impaciência. Leio, pesquiso, procuro. Escolho o local, a época, o mês. Faço contas, traço limites. Analiso possibilidades. Estabeleço comparações. Planeio ao pormenor, anoto o que me parece mais importante – mas com o cuidado de deixar espaço para o imprevisto, para o improviso, para a surpresa. Recolho informações sem fim, escrevo, imprimo… Fico obcecada e frenética.
A tranquilidade só chega no momento em que corro o fecho da mala. Respiro fundo, simultaneamente com alívio e satisfação. Olho em volta, despeço-me mentalmente, pego nas coisas, tranco a porta depois de sair.
Quando desço as escadas o meu espírito já está longe, precedendo-me no espaço e no tempo.
Sinto-me leve e feliz. Estou a caminho. Vou viajar.