Rei da sala
Tu esbanjas charme. Entras distribuindo sorrisos à esquerda e à direita, abraças um, beijas outra, avanças no teu passo decidido e seguro, como Moisés apartando as águas. Conheces meio mundo, e o outro meio conhece-te também. Agarras firmemente no copo com a tua bebida enquanto conversas, atiras a cabeça para trás quando dás uma gargalhada. És alto, és elegante, não passas despercebido e tens plena consciência do fascínio que exerces. Falas com convicção, circulas e danças, exibes gestos largos, destilas carisma… Atrais olhares e às vezes até mesmo suspiros. És o rei da sala.
Mas horas depois, já quase de manhã, a festa termina. A música cessa, os brilhos esmorecem, as máscaras caem. Apagam-se as luzes da ribalta, saem de cena os últimos actores.
Agora que já não estás sob o foco dos projectores, o sorriso extingue-se do teu rosto, as tuas costas curvam-se um pouco, arrastam-se os teus passos cansados até ao carro.
E é um homem, apenas um homem, que bate à minha porta na madrugada fria e procura, finalmente respirando fundo, o seu refúgio no calor ameno dos meus braços.